Senado aprovou texto tal qual veio da Câmara e agora mudanças
vão a sanção presidencial, que prometeu mudar pontos via MP, mas terá de
enfrentar resistência do presidente da Casa
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FOTOS PÚBLICAS. |
Após uma sessão conturbada, com protestos de
senadoras e até luzes apagadas no plenário do Senado, a reforma trabalhista
apresentada pelo Governo Michel Temer passou por sua última batalha
nesta terça-feira e vai agora para sanção presidencial. Foi uma vitória celebrada
pelo presidente que vive seus piores dias no Planalto, acossado por um grave
escândalo de corrupção que pode tirá-lo do poder. Os senadores aprovaram, por
50 votos a favor, 26 contra e uma abstenção, o texto que propõe uma profunda
mudança na legislação trabalhista. Não houve nenhuma alteração com relação ao
já chancelado pela Câmara, mas Temer promete
mudar alguns pontos por Medida
Provisória e para isso terá de enfrentar a resistência de Rodrigo Maia,
presidente da Casa, que afirmou via Twitter que "a Câmara não aceitará
nenhuma mudança na lei". Entre as mudanças comemoradas pelo empresariado e
criticadas por líderes sindicais e pela oposição, está a prevalência dos
acordos coletivos em relação à lei em pontos específicos, o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical,
obstáculos ao ajuizamento de ações trabalhistas, entre outras alterações.
Mesmo com o encerramento da votação passada as 22
horas, o presidente Temer fez questão de se pronunciar para comemorar o
resultado. Disse que a reforma trabalhista aprovada é uma das "mais
ambiciosas" dos últimos 30 anos. "Essa aprovação definitiva da
proposta é uma vitória do Brasil na luta contra o desemprego e na construção de
um país mais competitivo”. Ainda segundo o presidente não haverá "nenhum
direito a menos” aos trabalhadores. As alterações aprovadas não retiram
direitos previstos na Constituição, mas tornam muitas das prerrogativas que
estavam presentes na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), de 1943,
negociáveis, às vezes por meio de tratativas diretas entre patrão e empregado.
Especialistas dizem que, na prática, essas negociações podem pender a balança
contra os empregados, especialmente em contextos de crise e mudanças
estruturais dos postos de trabalho.
A aprovação da reforma era um dos principais
pontos da agenda de reformas liberais de Temer, que ele diz serem
essenciais para desburocratizar os processos de admissão e demissão - uma forte
queixa dos empresariado- e reconquistar a credibilidade do mercado. A vitória,
no entanto, deve ter pouco impacto no calvário vivido pelo presidente. Nesta
quarta-feira, a Comissão de Constituição de Justiça da Câmara retoma a análise
do pedido de abertura de um processo penal contra Temer pelo crime de corrupção
passiva. A análise da CCJ é um passo prévio para que o tema seja levado ao
plenário e depois ao Supremo Tribunal Federal _se tudo der errado para Temer,
ele será afastado do cargo por seis meses. Por isso, o Governo vai tentar ao
máximo capitalizar a vitória desta terça no Senado enquanto segue com todos os
esforços para tentar evitar que a oposição ou aliados interessados em sua queda
consigam os 342 votos necessários para autorizar a denúncia. A avaliação que
ganha força em Brasília é a de que Temer pode até sobreviver a esse primeiro
embate, mas a tarefa ficará muito mais difícil se o procurador-geral da
República apresentar nova denúncia contra ele, o que é esperado. A eventual
nova denúncia teria de ser analisada também Câmara, num looping da
crise.
ACORDO
E MUDANÇAS DE MP
Temer usou, até o último minuto, toda sua
musculatura política para arrancar a aprovação da reforma trabalhista no
Senado. Para isso, usou um operador experiente, o senador Romero Jucá (PMDB-RR),
líder do Governo e também alvo de inquéritos da Operação Lava Jato. Conforme um acordo
prévio fechado por Jucá e reiterado por ele nesta terça, alguns pontos da
reforma ainda serão alterados por meio de medida provisória. Temer se
comprometeu através de uma carta enviada ao Senado, no fim de junho, a fazer os
ajustes necessários após a aprovação do projeto. A estratégia visava impedir
que as mudanças fossem feitas diretamente no texto, já que o PL teria que
voltar para a Câmara dos Deputados, postergando a tramitação da proposta.
A sessão desta terça foi marcada por uma série de
tumultos. O acordo prometido para suavizar pontos não foi suficiente para
aplacar a resistência da oposição que, sem número suficiente para alterar
qualquer ponto em plenário, partiu para táticas inusuais de obstrução
respondidas com ações igualmente esdrúxulas por parte do presidente do Senado,
Eunício Oliveira (PMDB). Eunício suspendeu os trabalhos por mais de seis horas
e desligou as luzes do plenário, após senadoras da oposição se recusarem a
desocupar a mesa da Casa, a fim de impedir que o peemedebista desse início à
sessão. Fátima Bezerra (PT-RN), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Gleisi Hoffmann
(PT-PR), presidente do partido, pediam alterações no texto,
principalmente no que dizia respeito ao ponto da proposta que determina que
mulheres grávidas e lactantes poderão trabalhar em ambientes considerados
insalubres, desde que apresente um atestado médico.
"Não venha dizer que esse ponto atende a
médicas", protestou Vanessa Grazziotin, dizendo que nova regra
colocava em risco a vida de operárias grávidas ou amamentando que trabalharão
com substâncias impróprias. Coube a Romero Jucá voltar a prometer na tribuna
que esse ponto suavizado na prometida Medida Provisória de Temer. Segundo
ele, a mulher poderá trabalhar "em área de pequeno, médio ou baixo
impacto". E o acordo coletivo de cada categoria, seguiu Jucá, vai
fiscalizar o grau de insalubridade das áreas.
As senadoras conseguiram suspender a sessão por
mais de sete horas, mas a sessão acabou reaberta pouco depois das 18h30, mesmo
com as parlamentares ainda na Mesa. Depois de sancionado pela Presidência
da República e publicado no Diário Oficial da União, haverá um prazo
de quatro meses para a entrada das novas regras em vigor.
FONTE: ELPAÍS
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